Por Jeff Farah – Twitter: @JEFFarah
Depois de comentar sobre as contas de resultado, vou começar a abordar as patrimoniais. Nesta quarta parte da Análise do Balanço do Flamengo, trato do endividamento do clube. Veja os outros três posts:
Perda de austeridade ou apenas ano atípico do Flamengo?
Entenda o lançamento de receita e despesa no regime de competência
A análise das receitas no balanço de 2020 do Flamengo
Antes de entrar nos números da dívida do Flamengo, convém explicar um conceito, já que vejo com frequência pessoas perguntando quando a dívida do clube vai zerar. O endividamento em uma empresa é uma decisão de financiamento e, contra o senso comum, não é necessariamente nocivo.
No lado direito do balanço patrimonial, observa-se de onde vem os recursos. No esquerdo, onde são aplicados. Aqui vamos nos fixar nas decisões de financiamento, que é a escolha da menor oferta de recursos e a melhor proporção entre capital de terceiros (passivo) e próprio (PL).
O lado direito representa as obrigações com fornecedores, bancos e acionistas (no patrimônio líquido), entre outros. Não deixa de ser, num sentido amplo (lato senso), uma espécie de dívida com cada grupo. Contra o senso comum, o capital próprio é mais oneroso do que o de terceiros.
A introdução foi para deixar claro que nem toda dívida é ruim e que o Flamengo não precisa zerar a dívida. Provavelmente, isso não ocorrerá, como também não se imagina uma grande empresa como a Petrobrás, a Vale, a Toyota ou qualquer outra sem dívidas.
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Outro ponto: o conceito de dívida pode variar. Dívida poderá ser interpretada como o passivo exigível, o passivo oneroso, apenas empréstimos e financiamentos etc. Ao longo do texto vou definir que tipo de dívida estarei me referindo.
Introdução feita, vamos aos números do Flamengo.
A primeira pergunta que todos fazem é qual o tamanho da dívida. O conceito mais usual é o endividamento líquido operacional que mostra o valor líquido entre endividamento e disponibilidade, negociação de jogadores, fornecedores e clientes.
Por ele, a dívida do Flamengo é de R$ 440 milhões
O gráfico abaixo mostra o endividamento líquido operacional do Flamengo de 2010 para cá, corrigidos para o ano de 2021 pelo IPCA anual. Após um período de queda, a dívida do Flamengo voltou a subir em 2018, coincidindo com o período que começamos a trazer melhores jogadores.
Tanto o gráfico anterior quanto o próximo demonstram a teoria que expliquei anteriormente. A partir do momento em que a dívida ficou num patamar suportável, o Flamengo tomou a decisão financeira de se financiar com terceiros para se alavancar e conseguir formar bons times.
Como podem ver, o endividamento do Flamengo retroagiu para níveis de 2016. Contudo, o clube apresenta outros patamares de receita e geração de caixa. Abaixo, a comparação do grau de endividamento. A situação é bem mais confortável do que no passado.
A piora de 2020 em relação a 2019 foi por receitas e despesas não lançadas por conta da temporada passada ter terminado só em 2021 e pela queda de receita por causa da pandemia. Leia aqui mais informações sobre o regime de competência.
A dívida de terceiros mais cara é oriunda de financiamentos e parcelamento de tributos. É o chamado passivo oneroso. Abaixo, os valores do passivo oneroso líquidos pela disponibilidade de caixa, em valores atualizados para 2021. A queda nos últimos anos é bastante expressiva.
Já os valores que temos a receber versus os montantes a pagar referentes às transferências de jogadores podem ser acompanhadas no gráfico abaixo, onde se observa que estamos gerando dívida líquida de negociação de jogadores. Ou seja, temos sido financiados por outros clubes.
Conclusão: a dívida que já foi um problema para o clube, hoje está sob controle. Entretanto, temos que ter atenção à perda de receita por causa da pandemia. Isso poderá nos obrigar a alavancar mais (como ocorreu em 2020) ou perdemos jogadores.
Em breve, nova análise!